quinta-feira, janeiro 29, 2004

VINIL 4Ever

A entrar-me pelos ouvidos está, neste momento, o som proveniente do vinil «All The Mod Cons» dos The Jam, circa 78, autêntica biblía da época para o jovem aspirante a mod. Desde o clássico «Down in the Tube Station at Midnight» até à cover «David Watts», dos Kinks, passando pela belíssima «English Rose», está lá tudo o que um bom disco de música popular moderno deve ter. Ao terceiro disco, Paul Weller distinguia-se dos restantes nomes do punk e da new wave como um compositor de excepção. E como soa bem este vinil!

Não, não são malucos aqueles que ouvem discos de vinil em sistemas milionários, antes boas pessoas (definição deaqueles que dependem da música para viverem) com posses financeiras para tal. Mas não, não vamos tão longe...

Desenterrem o vosso velho gira-discos, verifiquem a correia e comprem uma agulha nova. Para já isso basta. Dirijam-se a uma loja acessível, tipo Fnac, e comprem, por exemplo, a edição comemorativa dos 25 anos da publicação de «Marquee Moon» dos Television. Oiçam e lembrem-se da diferença.

Confesso que fui (e sou) vítima do cd. Sempre na ponta do interesse pela tecnologia, aderi ao cd como religião e esqueci-me da colecção do «antes» que teimosamente me continuava a espreitar daquele móvel moderno de sala com as dimensões exactas para agrupar, em três filas verticais, uma amostra da minha colecção de vinil A.Cd. Mas não, não há volta a dar-lhe... Damn the mp3, cds e mini-discs, esse som não é O SOM!

Não, aqui não haverá alinhamentos feitos pelo ouvinte, e a picagem de temas em ordem não planeada pelos autores pode custar alguns ruídos menos confortáveis em futuras audições. Lado A, lado B, virar o disco e ouvir. Como é uma nova geração ouvirá o vinil, sendo que não cresceu com esse som nos seus ouvidos, eu diria mais, no seu imaginário? Certamente, com desconfiança, mas também com o momento-descoberta de poder ouvir, pela primeira vez, algo que soa a diferença. Quente, orgânico - non-digital para ser mais correcto.

Um dos pesos pesados dos coleccionadores de vinil deste país, e um dos homens chave da música em ondas hertzianas, informava-me, entre charutos, que alinha na sua hiper colecção o triplo vinil de «Ser Maior», dos Delfins. E falou-me na criação de um clube de Vinil Nacional... Fica prometido, o próximo disco que editar será também um disco de dimensões sérias, e não só essa mísera rodela-base-de-copo que mudou o som da música dos que a haviam mudado.