BRIAN IS GOD
Antecipando a estreia absoluta da Tour 2004 de «Smile», onde Brian Wilson apresentará ao vivo aquele que foi o seu álbum maldito, é lançado em DVD o concerto de «Pet Sounds» em Londres.
Sobre «Smile», desfragmentado e polido nos álbuns seguintes dos Beach Boys, ficará para sempre na história da música popular como a tentativa falhada de igualar o esforço de «Sgt. Pepper's...», do outro lado do Atlântico, por entre depressões e excessos da época sessentista. Não deixará de ser emocionante ver Brian a tornar isso possível, ao vivo - coisa de que o concept dos Beatles nunca gozou.
Quanto a «Pet Sounds», recordo-me da viagem propositada a Glasgow para assistir à estreia, em anglo-território, do regresso de Brian a palcos da Grã-Bretanha, 30 anos depois...
Primeiro lembrei-me de Amália, e daquelas ovações em pé à entrada no palco do Coliseu de Lisboa, como se antes do espectáculo se aplaudisse não o resultado dele, mas a viagem de uma vida.
Depois esqueci-me de Amália, é claro, porque aqueles sons californianos, melosos e psicadélicos, sempre me disseram muito mais à distância.
(Dos Beach Boys e dos Beatles não me agradam muito os primeiros discos, o que acontece também com Elvis Presley. Para mim, foi a sua «contaminação» que os tornou mais interessantes. O que é raro ver hoje em dia, nas carreiras dos artistas contemporâneos, com muito poucas excepções.)
Briam Wilson esteve horas em palco no SEC Auditorium, mas quase sempre longe, sozinho com 6 mil, ora lembrando a morte dos seus irmãos, ora surfando sentado num piano em que muito pouco tocou. Foi inesquecível, e valeu bem a viagem. No dia seguinte, num clube local, «apanhava» os entusiasmados Pearlfishers, devotos incondicionais da obra de Brian, assistidos à plateia pela Isobel dos Belle&Sebastian/The Gentle Waves. Éramos 100.
(Ainda consegui visitar The Burrel Collection e apanhar aquela chuva dos campos, discutir à lareira com um homem de saias, membro da Burns Society - reunida anualmente em memória do poeta nacional resistente - e sentir nas suas palavras sábias de História a proximidade da resistência medieval portuguesa face ao pai espanhol.)
As viagens afortunadas que podemos fazer, de vez em quando, para assistir a concertos da nossa vida, deveriam ser uma modalidade regular e obrigatória para a nossa educação social. Acho mesmo que está na hora de fundar um clube que se dedique a isso, sem organização organizada. Um klub, portanto, onde todos são livres de organizar o seu tempo de intervalo em viagens de sonho. Só para aficcionados, claro! God knows that I just was made for these times...
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