Esqueçam. Se não gostam do homem, se não o suportam mesmo, se o acham um pedante, faux director etc e tal, esqueçam. Não vão ver «The Brown Bunny». Se não engolem o facto de Gallo fazer todos os papéis artísticos e técnicos dos seus filmes e projectos - actor principal, realizador, director de fotografia, camera man, músico, engenheiro de som... - então não vão gostar certamente do filme que tanta polémica e rabos dos assentos levantou em Cannes. Se não suportam mesmo a cara do homem... Bem, no filme a nuca é que protagoniza! Gallo aparece realmente em grande plano em 75% do filme, embora muitas vezes de costas, outras tantas desfocado, desenquadrado... Agora se, à partida, embirram mesmo com ele, se Vincent Gallo é o vosso the man you love to hate... Não vão ver. Vão odiar.
Por outro lado... Se acham que o cinema contemporâneo não tem forçosamente de contar uma história fechada, se acreditam que o que vale no cinema são os momentos em detrimento da acção, se acham que a banda sonora é elemento superlativo nos bons filmes, se preferem um bom confronto de situações interiores a um guião escrito a muitas mãos da indústria, se preferem uma boa ideia para ser discutida do que a explicação de muitas... Bem, podia ficar aqui horas perdidas.
«The Brown Bunny» é um Filme. P(r)onto. Preconceitos aparte sobre o super protagonismo de Gallo em todas as áreas, é um brilhante road movie que ilustra uma viagem pós-traumática, e mais não irei aqui revelar. Não é um filme de sensações mas sim de sentimentos, sentimentos contraditórios na luta interior da mente com o corpo. E que «pinta» a relação com os outros. Sim, é minimal, muito minimal mesmo, mas maximizante no seu resultado sobre nós. É que assistindo a «The Brown Bunny» podemos respirar para fora e expirar para dentro, o melhor que um filme nos pode proporcionar. Como dizia alguém num concerto dos Pink Floyd em Paris, circa 1975, «O ar é música, respiramos pelos ouvidos». Aqui a frase completa-se:«O ar é imagens e música, respiramos pelos sentidos».
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