sexta-feira, abril 09, 2004

ABERTO ATÉ DE MADRUGADA

Ontem foi noite de «Paisagens Americanas», no Teatro Aberto. «Road Trip», «Merge» e «Land of the Dead», são três peças «state of the moment», escritas para teatro-cinema pelo cineasta-dramaturgo Neil LaBute. LaBute é sem dúvida um dos argumentistas contemporâneos mais importantes, a voz da América, de outra América, de Salt Lake City dos mormons até à Big Apple das horas da derrocada de 11 de Setembro. A derrocada das relações humanas, tal como da relação que temos com nós próprios, sempre foi o universo das «cenas» de LaBute. «Paisagens Americanas» não é excepção. Com encenação individual e conjunta de Rui Pedro Tendinha e João Lopes, que nos apresentam 3 belos storyboards acompanhados de música escolhida a preceito, estas paisagens são os nossos caminhos interiores mentais, dissecados às vezes até à exaustão linguística, e mesmo sendo americanas sentimo-las dentro de nós. E é bom vermos em palco novos actores de entrega, lado a lado com alguns antes não actores, como o cada vez mais excelente Pedro Lima ou a cada vez mais work in progress Sofia Aparício. Tal como em «Socos», também de LaBute, o Teatro Aberto aposta visionariamente na nova comunicação, desprendendo-se inteligentemente dos clássicos não clássicos do teatro independente tipificado.
Vem aí «A Forma das Coisas», no ciclo LaBute, já editado em DVD no nosso país- e que belo filme! - e será certamente mais um espectáculo a não perder.
Ao assistir a estas viagens interiores, mais separei as águas entre o suficiente menos «Lost in Translation», de Sofia Coppola e o excelente e odiado «Brown Bunny», de Vincente Gallo: enquanto que a colegial Coppola corta o seu filme com planos fixos de túneis em Tóquio mais os arranha-céus em velocidade de luz on/off, autêntico exercício universitário manipulador chapa 3, Gallo deixa o ar vazio ser cinema - a sua nudez de autor - e fornece o oxigénio para que o respirar da audiência individualmente e em conjunto (e é por isso que será sempre bom ir ao cinema) cole no filme a história da viagem interior a que nós, como espectadores, todos temos direito.