domingo, outubro 31, 2004

O Mundo Não Ouvirá - claro como água turva



Alguns iluminados fazem depender o futuro do mundo das eleições americanas (será que conheceremos o resultado daqui a... 3 meses?). Como em tudo, também nesta disputa presidencial existe uma moda, um politicamente incorrecto correcto, bem visível por toda a europa neo liberalizada. Tanto que até irrita ao ponto de...?
O «Inimigo Público» é um dos melhores suplementos de humor fabricados em Portugal. Sem dúvida. Humor inteligente, àparte meia-dúzia de colunistas em casa própria que constituem a parte mais fraca do suplemento. Para comemorarem 1 ano de existência editaram há pouco, com o jornal, um livro best of e realizaram uma Gala num teatro de Lisboa. O livro é altamente aconselhável, na mesma medida que o «Inimigo Público» em Gala foi a coisa mais «assustadora» a que pude assistir ultimamente. Se bem que os mais notáveis e jovens profissionais de humor e televisão do momento se unissem no palco e em por vezes brilhantes sketches, quer por um associado de cómicos Levanta-te e Ri+Herman Sic, quer até pelo Gato Fedorento - o assustador estava mesmo na assistência, e numa espécie de celebração jocosa e tendenciosa da resistência política em Portugal.
Na plateia pública de notáveis convocados pelo Público, entre Eduardo Prado Coelho e sorrisos amarelos, algumas not so pretty faces e a presença sempre comichosa (para não haver lugar a insulto) de Rui Zink, o espírito era qualquer coisa como «não somos poder mas os outros são porque são tããão estúpidos, tão pouco inteligentes e sagazes, tão alvejáveis...». As farpas dispararam na direcção deste governo e seu 1º ministro - so obvious - e do PSD-PP-PS... Embora o humor do suplemento seja global, na gala escusou-se a ridicularização, por exemplo, do PCP e do Bloco. Ou seja, dava a impressão estarmos a assistir a uma troupe Monty Phyton engagé e parcial. E não é uma boa visão acreditem, estes young & old angry young man and woman, que por não conseguirem resultados politicamente celebram a sua certeza humana e avanço intelectual em efemérides deste género. Fica essa impressão, ao observador anónimo.
Fica também a impressão que só a geração que agora entra na adolescência irá mudar definitivamente o rumo deste país. Só esses nunca ou pouco aprenderam e já esqueceram a lição da revolução de Abril e o sonho desfeito de 75, com todas as frustrações implicitas. Só esses já perceberam que o mundo é realmente um lugar global para se viver. Só esses não querem saber do recalcamento como estranha forma de vida. Só esses podem apagar, correctamente, do seu dia-a-dia, a postura dos velhos e novos do Restelo, da mesma forma que incorrectamente a querem apagar dos manuais.
Mas nunca fui muito de esperar por novas gerações, nem de hipotecar o meu tempo terreno à custa do impossível. E para mim, neste momento, é claro como água turva que há uma maneira de contrariar tudo isto: não achar piada. Repito: não achar piada. O que não é difícil, devido ao próprio teor de alguns destes sketches... Não me esforçar para rir, para aceitar as directivas que nos querem impôr em termos de pensamento social aceitável. Por isso, estou-me bem nas tintas para as eleições americanas, ganhe o pateticamente feroz Bush ou o desossado looser Kerry. Eu conheço os resultados da nossa democracia e aceito viver com eles. Não pretendo reescrever o passado quanto mais o presente! E as Horas Perdidas começam desde já a sua segunda fase na blogosfera, como reacção ao estado «danação». A vida é muito mais séria do que os desiludidos e eternos ressabiados so very much left wingers nos querem fazer crer e...
E chega o fim do dia e é nos universos pessoais dentro dos universos globais que realmente vivemos. Lá fora, lá fora a chuva cai e não nos molha cá dentro.