segunda-feira, agosto 09, 2004

Beckenbauer, anyone?



A Sudoeste, nada de novo? Não, algo de novo e apetecia-me algo. De resto, eat your hearts out - Festivais are go! Estive lá dois dias e chegou. Sobre o resto, algumas fontes fide-indigenas relataram-me as ocorrências, partilhadas em vários quadrantes.

É bom poder testemunhar momentos assim. Momentos que lembrarei como dos mais marcantes, no que diz respeito aos concertos ao vivo. Se bem que para chegar lá se tenha que passar os ouvidos por algumas brasas...
Franz Ferdinand são neste momento um must. Aliás, foram o único must do Festival Sudoeste, este ano, festival cada vez mais empobrecido (a todos os níveis!), também ele vítima da global crisis (what crisis?) que assola o país - menos o país de Madonna. Mas a isso já lá irei.
Imaginem uma mistura explosiva de Talking Heads de «77», Buzzcocks, alguma no wave, shake shake shake, uns pozinhos de teclas à Motors, a nice shirt dress sense, figuras esguias e cortes de cabelo à bandas escocesas do início dos 80s, e obtém-se um resultado muito próximo de Franz Ferdinand. Muito próximo, mas não igual. Tão distante afinal como da 2ª divisão Groove Armada à I Liga dos Chemical Brothers...
Sem parar, FF deram o melhor espectáculo de muitos Festivais. E mais não vale a pena dizer, só guardar. É bom poder testemunhar bandas em estado de graça, em momentos chama da sua carreira, onde a novidade/criatividade se funde com uma energia imparável, capaz até de levantar os neo-freaks do Sudoeste depois de fumado o 18º charro...
É pena que os cada vez menos concorridos Festivais tenham elencos menos interessantes e tão repetitivos, tão repetitivos - e se calhar por causa disso mesmo. E depois...
Pouco resta do glamour de outros anos: os caterings de frios e quentes de outrora, embelezados por live flat panels all over, dão agora lugar a simples sopa, no espaço Vip, com o plus de um hotdog na meia-noite de sexta e o arroz de pato para todos os gostos no sábado. As bancadas Vip também desapareceram, dando lugar a uma inóspita e lateral varanda. Mas, também, para que serve um espaço Vip luxuoso? Deixem os jornalistas trabalhar e serem eles os auto-Vips! Não percebo que alguém assista a qualquer que seja o concerto da longínqua varanda Vip, nem que perca a verdadeira sensação de Festival que se vive nas barracas da cerveja e dos hamburgueres de avestruz...
Nesta história rápida realce também, e não seria honesto se o não fizesse, para as actuações dos Clã e dos Da Weasel, estes últimos com um dos espectáculos mais eficazes e concorridos dos 4 dias. E Virgul é sem sombra de dúvidas uma rising star. Apostaria que um disco a solo, produzido na área do Hip Hop que resvala para o r'n'b, se tornaria instantâneamente na next big thing portuguesa...
No palco dos portugueses, mais ou menos vazio, especialmente durante as primeiras actuações, algumas confirmações: Melo D., Loto, Plaza, Yellow W.Van e mesmo os renovados e mais teatrais Zen. Mas, perdoe-me, como é que pode ser tão refrescante como realmente foi ouvir as canções herméticas dos Oioai - leia-se Ó-i-ó-ai - com umas portuguese poetic lyrics tão genialmente particulares, depois de um mergulho de fim-de-tarde nas águas frias da orla alentejana? A descobrir cada vez mais, estes Oioai, sem concessões.
Mas a melhor música do Sudoeste também passou pelos écrans PUB que irritantemente preenchem os intervalos entre bandas, inexplicavelmente, ou talvez não, com MAIS VOLUME AUDIO que alguns concertos... Como conferia e me diziam ao lado, os Pluto mereciam estar ali, mesmo sem álbum.
Os Dandy fizeram pouco, entre o psycho bluegrass do próximo disco, ali destapado, e as paragens rítmicas syd barretianas que serviam de banda sonora às imagens de fundo. O Arthur Lee, como se sabe, não apareceu, numa espécie de sketch Kaufmaniano, os Zero 7 sentaram muita gente, tal como os Massive seca tinham feito na noite anterior. Os Massive, numa espécie de demagogia Michael Moore sem aspecto roliço e piada alguma, informavam que os nomes que passavam no fundo do écran eram os das vítimas iraquianas -mulheres e crianças only- desde a invasão americana do território. Válido, mas o concerto foi tão longo e chato que bem podiam ter posto todos os nomes - homens incluídos - gaseados na época Saddam, que ainda faziam alguns encores... Ash e Hermanos cumpriram, mas sem mais, sem a química que sempre se espera.
Mas voltemos aos Franz. Eu pelo menos volto já!