segunda-feira, dezembro 08, 2003

O FUNDO DO FUNDO (longo)

Às vezes, desculpamo-nos deslizando à superfí­cie das coisas...

«Até ao Fim», de Traudl Junge, é nada menos nada mais do que o relato, na primeira pessoa, dos últimos dois anos e meio da vida de Adolf Hitler. Traudl foi uma das suas secretárias particulares, com vinte e poucos anos, à altura.
Segundo a autora, foram precisas algumas décadas para se atrever a publicar este livro. Não porque nele se faça uma apologia cega do III Reich, mas sim porque retrata de muito perto - com tudo o que advém da intimidade de uma relação diária - um dos homens monstros do séc.XX. Nesse aspecto, o livro é muito bom: quase que nos esquecemos do «monstro» Hitler e analisamos o homem Adolf. É então que deslizamos à superfície das coisas...
Os últimos dias, no bunker em Berlim, são descritos primorosamente. Desde a angústia que Hitler, Eva Braun e seus convidados sentiam por se aperceberem que tudo estava perdido, até aos pequenos pormenores - como o relato cru e passageiro do modo como Hitler acaba secamente com a vida da sua cadela, que até aí­ tinha sido sua companheira de vida - em que se descobrem as pessoas por detrás das máscaras. Mais impressionante é a descrição da famí­lia Goebbels e da sua decisão final suicidária, que incluíu livrarem as suas cinco crianças da vida futura numa Alemanha sem o Nacional-Socialismo...
Está tudo lá: tiro na boca e cápsula de veneno para Hitler, apenas cápsula para a reçém casada Frau Hitler, corpos regados com gasolina e depois queimados, tudo segundo ordens do Fuhrer. Co'a breca, tanto se falou sobre um Hitler avistado na América do Sul, um Hitler cadavérico no arquivo fotográfico do KGB... Mas ninguém quis dar ouvidos a Traudl Junge, ou será que ela
se defendeu todos estes anos na memória inviolável que este livro descobre? Não, acho que não quiseram foi cavar mais fundo...

Camarate: depois do excelente filme quasi documentário de Luí­s Filipe Rocha, também nos enoja que questões de Estado tenham, até hoje, querido empurrar a explicação daquela noite fatí­dica para a tese do «acidente». Por favor, não insultem mais a nossa inteligência! Salvé as sucessivas comissões parlamentares que se têm debruçado sobre o caso, substiutuindo em muitos casos a PJ e os próprios tribunais. Afinal, um campo onde os deputados demonstram alguma dedicação e trabalho...

O Observatório Europeu é um folheto enfiado nas caixas de correio dos portugueses. E dele ressalta logo o título: «Portugueses, mal informados, defendem Constituição Europeia».
Bem, fico entusiasmado mas esmoreço quando percebo que se trata «apenas» de propaganda cristã lançada aos deputados portugueses que votaram contra a referência explí­cita das raí­zes cristãs da Europa...
No entanto... Não é isso um facto? É interessante ver como toda a esquerda votou contra a inclusão explí­cita dessa referência. Reescrever a história sempre foi apanágio dos regimes totalitários... O facto é que o PASSADO da Europa passou pelo crescimento social delimitado pelo contrôle da fé cristã organizada em instituição. Mencioná-lo é História, mesmo que o FUTURO não passe pela aceitação total dessa influência - embora comunidades mais ou menos fragmentadas continuem a seguir a palavra centralizada do Vaticano.
Mas as vontades e crenças - ou descrenças - pessoais e dogmáticas continuam a querer ditar leis que mudem os hábitos das pessoas, a chamada evolução por decreto. Eu não acredito muito nisso, e porventura quando defendo algo do tipo, por ex. a Lei da Música Portuguesa, é porque a cultura local faz parte da educação, e a escolaridade mínima é, como todos concordarão, uma necessidade obrigatória...

No canal RTP Àfrica passava há pouco o videoclip «Perigo», da Resistência...