domingo, outubro 03, 2004

(muito mais que) pub



«Sickcom», de Hugo Amaro
Parque Palmela - Auditório Fernando Lopes Graça

23-09-2004 a 03-10-2004
5ª-Dom: 22h00

Grupo Azul Ama Vermelho
Maria Galhardo (Actriz)
Hugo Amaro (Actor)
Rui Mourão (Actor)
Selma Cifka (Actriz)
Isabel Simões Marques (Actriz)
Hugo Amaro (Encenação)
Joaquim Magalhães (Guarda-Roupa)
Hugo Amaro (Texto)

Sickcom tem cinco actores, cinco microfones, cinco círculos coloridos.
Sickcom apresenta situações aleatórias, fragmentos de discursos, discursos feitos a partir de fragmentos.
Sickcom é um espectáculo que nega essa mesma premissa; um anti-espectáculo.
Sickcom toma as drogas sintécticas como ponto de partida mas é incapaz de definir um ponto para a chegada.
Sickcom é uma comédia que não consegue sê-lo; porque é amarga, e perturbada, e cheia de náusea.
Sickcom é a ressaca, a alucinação, a paranóia e a ausência de um discurso inteligível.
Sickcom está repleta de incoerências, contradições, inutilidades, histerias e maus fígados.
Sickcom é absurdo, feito de estilhaços, esquisitóide.
Sickcom é um produto frustrado; é um retrato vazio porque é incapaz de encontrar uma substância.
Sickcom é o mais cínico que consegue.
Sickcom é a alienação no seu estado mais imberbe, fútil e estupidificante.
Sickcom cumprirá o seu objectivo se ao terminar não houver sequer um espectador na assistência.

Acaba hoje e é uma pena se não a forem ver se ainda não viram e se não a forem ver a correr. é um aviso sério: é a peça original portuguesa mais interessante que anda por aí desde... desde... desde... ainda vamos ouvir falar muito deste argumentista encenador e depois é tarde, depois é o facto de não terem presenciado algo no momento, algo que testemunhado tem o valor que tem, que é o de nos lembrarmos para sempre nas nossas vidas de momentos desta peça e das suas implicações no nosso tempo interior.
uma peça dos nossos dias e nacional não aparece todos os dias. claro que está lá o ecstasy, claro que está lá a solidão dos inadaptados, claro que está lá a nossa esquizofrenia mais a dos nossos pares, claro que estão lá belas canções, do anjo da guarda de ana deus até ao kylie&cave, num dos momentos mais belos e lentos da peça. a peça é acutilante ao ponto de nos estar sempre a dar «chapadas de luva branca», às quais regimos com prazer e um reacesso brilhozinho nos olhos.
«paranoia will kill you», soprou-me uma actriz ao ouvido, depois de me oferecer mini-smarties no assento. eu ouvi «obrigada por terem vindo». mas que sick país mediático é este que se esquece de propagandear «sickcom» como a peça nacional mais relevante de toda a estação?!